{ reflexão semanal }

Newsletter nº26/2022

O DILEMA DA FIANÇA

por Jim Mathis

Em tempos de dificuldades económicas, muitos de nós têm amigos ou familiares a passar por necessidades. Queremos fazer o que estiver ao nosso alcance para ajudar. A coisa mais fácil pode ser simplesmente dar-lhes algum dinheiro. Um vale de oferta para o supermercado ou o pagamento de alguma conta de serviços públicos pode significar um grande alívio para alguém com pouco dinheiro. Mas Jesus disse: «Mais bem-aventurada coisa é dar do que receber.» (Actos 20:35). Uma aplicação desta admoestação é a de que o receptor pode não estar tão entusiasmado com o presente como estará o dador — portanto, há que ter cuidado quanto à forma de reagir.

Actos 4:32-35 fala sobre a igreja primitiva, quando os primeiros cristãos se preocupavam profundamente uns com os outros. Se uma pessoa ou família tivesse uma necessidade, alguém poderia vender alguma coisa para ajudar. A Bíblia diz que o dinheiro era «depositado aos pés dos apóstolos», o que sugere algum tipo de fundo de benevolência discricionário que pudesse ser usado por qualquer pessoa que tivesse necessidade. Muitas igrejas têm hoje um sistema semelhante em funcionamento.

Podemos pensar que talvez seja boa ideia emprestar dinheiro, mas são os bancos que estão no negócio dos empréstimos, e o nosso amigo pode ter já esgotado esta possibilidade. Se fizermos um empréstimo pessoal a um amigo ou a um familiar, estaremos a agir como um pequeno banco. Teremos de fazer as coisas que um banco faria, tais como ter um documento de empréstimo que declare o valor, os juros e o plano de reembolso, bem como as consequências decorrentes de um incumprimento.

Trata-se de uma transacção financeira, portanto, mesmo que estejamos a lidar com um amigo ou um familiar, devemos ser firmes na forma como conduzimos a transacção. Também podemos querer considerá-la como uma prenda, com uma cláusula de perdão da dívida. Por exemplo, o acordo de empréstimo pode dizer que a dívida será cancelada caso ocorram algumas coisas, tais como a perda de emprego, a conclusão de um curso universitário ou alguma outra forma de incentivo que beneficie todos os envolvidos.

A pior forma de «ajudar» é ser fiador. A antiga sabedoria do Livro de Provérbios, na Bíblia, compara a fiança a um pássaro apanhado numa armadilha, alertando para os seus potenciais perigos. «Filho meu, se ficaste por fiador do teu companheiro, se deste a tua mão ao estranho, enredaste-te com as palavras da tua boca. […] Vai, humilha-te e importuna o teu companheiro. […] Livra-te, como a gazela da mão do caçador, e como a ave da mão do passarinheiro.» (Provérbios 6:1-5).

Como diz o texto, se tomámos a má decisão de nos tornarmos fiadores da dívida de uma outra pessoa, devemos libertar-nos o mais depressa possível. 40% das pessoas que servem de fiadores a um amigo acabam por perder dinheiro; pior ainda, 30% descobrem que isso prejudicou o relacionamento. Como nos diz outro texto de Provérbios: «Decerto sofrerá severamente aquele que fica por fiador do estranho, mas o que detesta a fiança estará seguro.» (Provérbios 11:15).

Há alguns anos, o meu pai foi fiador de um familiar num empréstimo para compra dum automóvel. O contrato entrou em incumprimento e o carro foi retomado pela entidade financiadora. Isto constou como um incumprimento no cadastro financeiro do meu pai, enquanto fiador do empréstimo, o que fez com que lhe fosse mais difícil, por sua vez, obter um crédito para a compra duma casa, alguns anos depois. Se o meu pai tivesse optado por ser co-mutuário, assumindo solidariamente o empréstimo para a compra do automóvel, poderia ter reclamado a propriedade do carro, vendendo-o para devolver o valor em dívida, preservando assim o seu nome «limpo».

Se tivermos amigos ou familiares a passar por necessidades, o nosso desejo de fazer uma diferença honrosa deve ser feito de forma a não lhes causar nenhum constrangimento. Podemos fazer-lhes um empréstimo, mas só se o dinheiro não for necessário para cumprirmos as nossas próprias obrigações financeiras. Como nos advertem as Escrituras, nunca seja fiador de um empréstimo. Não há vantagem nisso. Podemos ser generosos, se encontrarmos maneiras criativas e substanciais de encorajar, apoiar e animar os nossos amigos e familiares, ao mesmo tempo que protegemos os nossos relacionamentos e o nosso próprio futuro financeiro.

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“Filho meu, se ficaste por fiador do teu companheiro, se deste a tua mão ao estranho, enredaste-te com as palavras da tua boca. […] Vai, humilha-te e importuna o teu companheiro. […] Livra-te, como a gazela da mão do caçador, e como a ave da mão do passarinheiro.” Provérbios 6:1-5

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