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A Alegria de Ignorar Ofensas

Texto do Pastor Scotty Smith, de Franklin, Tenessee

Eu e a minha mulher tínhamos acabado de chegar de umas férias de oito noites num dos nossos locais favoritos de todo o mundo – a pequena vila de Iseltwald, aconchegada no Lago de Brienz, a dez quilómetros de Interlaken, Suíça. Nenhum outro lugar me consegue deixar mais feliz e mais ansioso pela vida que iremos desfrutar nos novos céus e na nova terra.

Mas apesar de ter sido maravilhoso poder celebrar o “39º aniversário” da minha mulher na Suíça (estamos casados há 46 anos), houve momentos em que o meu lado falho e imperfeito contradisse a beleza dos Alpes.

Quando a Vida Se Torna Irritante

A minha capacidade de irritabilidade, ressentimento e nervosismo perseguiu-me até ao nosso voo em Zurique, e em diferentes cenários da terra do chocolate. O que é que faz um seguidor de Jesus quando:

– Alguns viajantes colocam as suas malas de mão pesadas em cima do compartimento onde está o vosso lugar no avião?

– As assistentes de bordo parecem estar atentas às necessidades de todos à vossa volta, menos às vossas, e tratam-vos como um passageiro invisível?

– O Wi-FI gratuito do vosso voo inunda-vos com emails de feedback “construtivo” sobre a vossa última mensagem, e vestuário usado no sermão, o sotaque incomodativo do sul, e falta de disponibilidade noturna?

– Rapazes vigorosos e bem constituídos não conseguem oferecer o lugar à vossa mulher, com dores de costas?

– Por coincidência, esbarram com um amigo de há muitos anos na vila de Mürren, que menciona o nome de outro colega da altura da universidade – um que causou feridas de traição ainda por sarar?

– Uma reserva de hotel feita há meses atrás, para a última noite na Suíça, desaparece de repente, apesar de ter quatro letras de confirmação, e ter de tentar encontrar alojamento numa região praticamente com tudo esgotado?

De facto, como deve então um seguidor de Jesus reagir a tudo desde situações normais da vida num mundo imperfeito e falho, até às inconveniências de acontecimentos e pessoas irritantes, ou mesmo insultos intencionais e comentários desdenhosos e maldizentes?

A boa notícia é que o evangelho não nos desumaniza, mas pelo contrário, torna-nos mais humanos. Como seguidores de Jesus, experimentamos a amplitude total de desapontamentos e emoções capazes de serem experimentados por aqueles que refletem a imagem de Deus. Mas pela graça de Deus podemos aprender a gerir estas emoções, em vez de sermos escravos delas. Podemos aprender a reagir da forma mais redentora possível, em vez de reagir de forma egoísta e orgulhosa. E podemos mesmo encontrar alegria ao “ignorar uma ofensa” (Provérbios 19:11).

Cinco Boas Razões para Ignorar uma Ofensa

Alegria em ignorar ofensas? Sim. Alegria em que sentido? Vamos ver algumas das coisas que a Bíblia diz que nos trazem alegria se estivermos dispostos a recebê-la. Mas primeiro, vou ser claro: ignorar uma ofensa não deve ser confundido com submeter-se a pessoas abusivas, ou situações moral e eticamente inaceitáveis. Jesus chamou-nos para lavar pés, não para sermos tapetes.

Aqui ficam algumas das razões em que a ignorar ofensas nos traz alegria.

  1. Sensibilidades Espirituais

Quando não temos em conta uma ofensa, podemos alegrar-nos no facto de estarmos a ter uma sensibilidade espiritual maior e gloriosa. A Bíblia diz: “A sabedoria do homem lhe dá paciência; a sua glória é ignorar as ofensas (Provérbios 19:11). Quanto menor é o nosso limite de paciência, mais rápidos seremos a sentirmos ofendidos em relação a pessoas ou coisas. O senso comum é comum na Bíblia.

Quanto mais a verdade do evangelho renova as nossas mentes e molda a nossa perspetiva, mais rápida e facilmente conseguiremos desvalorizar algumas coisas. Vamos estar mais preocupados em glorificar Jesus com as nossas reações a situações incómodas e enervantes, e desistimos da ilusão de ter uma vida sem complicações e dificuldades. Há uma alegria enorme é importar-se mais com a glória de Deus do que com a nossa reputação, conveniência e direitos. Deus será sempre mais glorificado em nós quando estamos mais satisfeitos, alegres, em paz, e usufruindo da liberdade que há nele.

  1. Responsabilidade pelo Pecado

Ao ignorar uma ofensa, podemos alegrarmo-nos no facto de começarmos a reconhecer o nosso pecado. Começamos a acreditar que a trave no nosso olho é um problema maior que o cisco no olho de alguém (Mateus 5:38-42). Os Cristãos mais livres e mais alegres que eu conheço, são os mais rápidos a buscarem arrependimento. Não é que tenham menos do que se arrepender; são mais rápidos a reconhecerem o seu pecado, a humilharem-se, e a descansarem em Jesus.

À medida que o evangelho nos leva da condenação de Satanás até à convicção do Espírito, tornamo-nos mais conscientes de que necessitamos da graça de Deus tanto como alguém que peca contra nós, e há imensa alegria nesse tipo de humildade. Levamos menos em conta as ofensas, e podemos oferecer mais graça; somos mais pacientes, e menos desdenhosos; tornamo-nos melhor a esperar, do que a reclamar. Somos mais realistas sobre a vida como pecadores que, à nossa semelhança, ainda amam de forma limitada – e mais sábios sobre o que levar a sério, e o que é preciso ignorar.

  1. O Espírito de Deus a Agir

Quando ignoramos uma ofensa, podemos alegrarmo-nos que a graça de Deus e Espírito estão em operação, e a operar nas nossas vidas. Como Cristãos, somos chamados a “crescer na Graça e conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo” (2 Pedro 3:18). Crescimento na graça resulta num maior conhecimento de Jesus, que deseja que tenhamos a plenitude da sua alegria em nós (João 15:11).

À medida que nos rendemos ao mover do Espírito Santo nas nossas vidas, ele faz crescer amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio – os “anti-frutos” de um espírito ofendido (Gálatas 5:22-23). O Espírito Santo também nos leva a uma experiência superior do nosso relacionamento enquanto filhos de Deus (Romanos 8:15-17), que nos dá uma alegria maior em saber que o nosso Pai trabalha em todas as coisas para o nosso bem – mesmo nos cenários mais irritantes, imprevistos ou improváveis (Romanos 8:28). Deus nunca prometeu fazer as coisas fáceis, mas fazê-las ficarem bem.

  1. Livres de Buscar Aprovação

Quando ultrapassamos uma ofensa, gloriamo-nos também no facto de sermos livres para não necessitar de aprovação ou validação. Os Cristãos são pessoas cuja alegria não precisa de estar ligada aquilo que os outros pensam ou dizem sobre nós, ou como eles se relacionam e reagem a nós. Como diz em Provérbios 29:25: “Quem teme o homem cai em armadilhas, mas quem confia no Senhor está seguro.”

Temer as pessoas não é necessariamente ter medo delas, mas considerar em demasia a aprovação delas. Ou olhamos para Deus como fonte da nossa alegria, ou para as pessoas. As pessoas costumam falhar. Não podemos amar livremente ou com alegria alguém a quem demos permissão para envergonhar-nos ou exaltar-nos.

  1. Perdoar, enquanto Perdoados

Se ignoramos uma ofensa, podemos ficar felizes porque estamos a ficar melhor em perdoar assim como Cristo nos perdoou. Não há nada mais contraditório no universo, ou na história da humanidade, do que aqueles que foram perdoados dos seus pecados – de cada palavra, pensamento, ou ação – não oferecerem perdão aos outros (Mateus 18:21-35). É a bondade do nosso Pai que nos levou (e ainda nos leva) ao arrependimento (Romanos 2:4). Portanto, onde achas que a nossa atitude rígida, facilmente ofendida e rancorosa vai levar as pessoas? Como escreveu Paulo, temos de ser “bondosos e compassivos uns para com os outros, perdoando-se mutuamente, assim como Deus os perdoou em Cristo.” (Efésios 4:32). A nossa alegria em perdoar os outros está diretamente ligada à gloriosa e indizível alegria do perdão de Deus em nós, e do seu prazer em nós.

Fonte: https://www.desiringgod.org/articles/the-joy-of-overlooking-an-offense

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